sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cadê a minha paixão?

Me lembro que é desde do tempo de menino que esperançosamente desejo que uma paixão arrebate meu coração me levando a explodir no estádio Verdão. A nossa paixão cultural é o futebol. É no momento do extravaso da torcida apaixonada pelo seu time em um estádio que a consciência coletiva brasileira tem a mais pura representação de nossa cultura.

No estádio lotado é que o povo se iguala, se identificando como grupo de amigos, como torcedores de um mesmo time, como massa e finalmente como gente que pode sentir a mesma paixão: um time de futebol. É cantando o grito de ordem de seu time, vestindo a camisa, identificando sua paixão em outros apaixonados que o brasileiro se liberta das diferenças. É na arquibancada cheia que o pobre e o rico são um só, todos são igualados como uma massa de torcedores. É no estádio lotado que o indivíduo torna-se ao mesmo tempo nada e tudo, é lá que a individualidade não pode ser enxergada senão como parte de uma massa coesa na vontade de apaixonadamente torcer, e ao mesmo tempo, cada qual, a sua própria maneira, pode sofrer.

Mas isto nos foi tolhido, e eu me pergunto por que quase todos os outros Estados da Federação possui organização suficiente para que lhe oferecer esta oportunidade, e o Estado de Mato Grosso não? Seria em razão de os torcedores mato-grossenses não serem tão apaixonados quanto os outros brasileiros. Seria então por que os cuiabanos preferem ver os jogados da televisão, e são poucos chegados a um estádio. Ora tenhamos dó de quem pensa assim, pois somos brasileiros e como tais somos culturalmente levados a escolher um time de coração, a sonharmos em sermos jogadores de futebol, a nos agregarmos em torno de uma partida de futebol e a nos identificarmos como integrantes de um pensamento coletivo vislumbrante: a massa em um estádio de futebol lotado.

Não é só da arte do jogo bem jogado que o futebol vive, é também do espetáculo da capacidade individual humana em se organizar minuciosamente para extravasar uma paixão comum como torcedor. Meu tempo de menino passou, e ainda retenho a minha paixão, por mais que eu queira ainda não comprei a camisa do meu time de Mato Grosso. Acredito que é a timidez que me impede de revelar acintosamente a minha paixão. A timidez provocada pela falta de chance de me sentir livre do peso da minha escolha tão culturalmente forte como a de torcer por um time, e a de minha frustração infantil em não ser um jogador de futebol profissional. È em meio a massa de um estádio lotado que poderia me tornar um entre milhares, que poderia me igualar com todos que torcem e sentem como eu, que poderia enfim, encontrar-me com a minha paixão.
Bruno J.R. Boaventura

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