sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Obama: a era da responsabilidade

O fato de um homem negro assumir a presidência do império americano é digno de constar na história, e por isso digno de ser referenciado em todos os campos das ciências humanas, inclusive no direito. A referência feita nesta introdução é que no discurso de posse de Barack Obama temos uma nítida compreensão da retórica da mudança representada como porta de entrada de uma nova era, a da responsabilidade. Primeiramente, o discurso apresenta a figuração anti-heroíca da era atual que vem sendo marcada pela ganância desenfreada que acarreta a crise econômica e pela incapacidade de mobilização social, falsas promessas, dogmas desgastados, e disputas vazias como causas da crise política. O idealismo é o da liberdade com a igualdade não falando em solidariedade, tendo como crença o velho conceito protestante da mobilidade social pelo mérito do individuo. Não é novo, mudam-se as palavras ainda permanecem os conceitos, é uma tentativa de um novo passo com velhos sapatos. Não reforça o coletivismo, mas expressamente repulsa a elite parasitária que vive dos prazeres da fortuna e da fama. Este velho idealismo renovado gera na atualidade a necessidade ambiental da reversão da dependência humana para com os combustíveis fósseis, utilizando para tanto o sol, os ventos, e numa forte alusão aos bio-combustíveis também o solo. No modelo governamental da nova era da responsabilidade de Obama o neo-liberalismo já não é mais unânime. No discurso isto é entendido pela menção da redução da importância da discussão do tamanho do Estado. E tal evidência é reforçada quando Obama atrela a funcionalidade estatal com ajuda as famílias, salários decentes, assistência social, e aposentadorias dignas, receitas sociais estas evidentemente não dispostas no cardápio privatizante do neo-liberalismo. Na esfera econômica a palavra de ordem é a regulamentação, ou seja, a estipulação das responsabilidades dos capitalistas financeiros e da obrigatoriedade de transparência nas operações por eles efetuadas. Obama atenua o mercado como ente metafísico dominante, mas também não o excomunga e assume a retórica do longo prazo no controle do equilíbrio da distribuição da riqueza produzida. Na questão internacional, se resume a dizer que a abundância dos países desenvolvidos é gerada pela exploração dos recursos dos outros países. A compensação desta exploração deve ser então feita aos países fronteiriços, numa assunção do reforço dos blocos econômicos regionais. Todos estes fatores do discurso de Obama nos permitem afirmar que através da consciência da dupla face da histórica realidade atual, crise e mudança, o que existe é a retórica da necessidade da continuação da sobrevivência do próprio capitalismo que permite e alimenta o modo de vida americano. A mudança é representada por palavras de consenso e não muito ousadas para a famélica necessidade de quebra de paradigma na concepção ambiental, política, e econômica. Enfim o que não se fala é que a crise na verdade é de identidade do homem para com um modo devastador de produção que corrompe à todos e a tudo.

Bruno J.R. Boaventura

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