Prólogo: atrás de um Impunível já com a emoção e a razão recompostas, a
multidão chega ao seu destino. Bem ali, parou. Como quem pensa para poder dar o
próximo passo. Em seu caminho foi sendo chamada de manifestação ou de marcha.
Na verdade, era a gigante massa da brasilidade expressando a consciência
coletiva na vivacidade pedagógica das ruas. Naqueles cartazes que a levavam
diziam o que a cuiabanidade também queria. O Impunível então se pôs ao novo
debate com a palavra tão hipnótica como o efeito de uma injeção indolor de um
doce veneno maniqueísta:
- O que querem, posso dar, me deixem conversar com os seus líderes para
lhes explicar, que em nossa política existe uma Lei: tudo é passível de
conciliação. Se aproximem, nada temam, se tornem a contemplação, lhes afirmo
que é legitima essa manifestação, mas lembrem-se: tudo é possível de conciliação.
Sei que nada fizemos antes, mas existe o perdão. Não briguemos, sou irmão.
Radicalidade não, vandalismo não, toda a verdade é uma conciliação.
A impaciência do Inapoderável lhe toma
o trejeito e o dedo em riste riscando o ar impõe um momentâneo silêncio.
- Até quando, Impunível, canalha vil, até quando abusarás da nossa
paciência ? Hoje é o dia do basta, todo ciclo tem um fim. O tempo das suas
bicadas acaba agora. Ao seu futuro são reservadas tantas condenações quanto
bastarem para reescrever a sua história como sendo a zombaria de um louco.
Deixemos a voz das ruas soltar a sua palavra de ordem!
Então, o coro se fez, todos e todas as
vozes em uma só. Era uma ressonância tão legitima e tão direta como no tempo em
que o campo de Ourique viveu a Rusga.
- Somos nós os filhos e filhas desta terra, somos herdeiros da
luta dos quilombolas, camaradas e paiaguás. Eis o amor que deveria
governar o mundo: a nossa terra e a nossa gente. Nosso regionalismo
faz logo a criança tomar gosto pela sombra, pelo vento, pelo pingo da chuva e
pelo sabor da fruta. Sustentamos a mangueira, o cajueiro e o buriti como os
nossos mais belos monumentos. No mundo de brancos ungimos o negro a Santo, e
fizemos dele o mais forte símbolo de nossa cultura. Cuiabá é feita
de gente que enfrentou o medo da fronteira, da Guerra, da fome e do perigo
constante da morte. Por isso vencemos o Império do arbítrio, combatemos a República do
privatismo e perseguimos a Democracia prometida. Sempre enfrentando o idealismo
da indiferença. Hoje, fizemos o centro como periferia. Amanhã,
faremos o sertão como o projeto de mundo. Por isso, eis a nossa palavra de
ordem: Reforma Agrária, Política e Tributária ! Para o todo reformar, é
Constituinte Já !
Epílogo: o Sol passava do Zênite quando o debate foi encerrado, em pleno dia
começava um novo amanhã pela instauração da primeira sessão da Assembleia
Constituinte.
Obs.: O ato 4 é precedido do ato
1 – O Impunível, do ato 2 – O Inapoderável e do ato 3 - O debate inicial entre
o Impunível e o Inapoderável.
Bruno Boaventura – Advogado. Especialista em Direito Público. Mestre em Política
Social pela UFMT. www.bboaventura.blogspot.com
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