quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O debate assemblear entre o Impunível e o Inapoderável. Ato 4.


Prólogo: atrás de um Impunível já com a emoção e a razão recompostas, a multidão chega ao seu destino. Bem ali, parou. Como quem pensa para poder dar o próximo passo. Em seu caminho foi sendo chamada de manifestação ou de marcha. Na verdade, era a gigante massa da brasilidade expressando a consciência coletiva na vivacidade pedagógica das ruas. Naqueles cartazes que a levavam diziam o que a cuiabanidade também queria. O Impunível então se pôs ao novo debate com a palavra tão hipnótica como o efeito de uma injeção indolor de um doce veneno maniqueísta:

- O que querem, posso dar, me deixem conversar com os seus líderes para lhes explicar, que em nossa política existe uma Lei: tudo é passível de conciliação. Se aproximem, nada temam, se tornem a contemplação, lhes afirmo que é legitima essa manifestação, mas lembrem-se: tudo é possível de conciliação. Sei que nada fizemos antes, mas existe o perdão. Não briguemos, sou irmão. Radicalidade não, vandalismo não, toda a verdade é uma conciliação.

A impaciência do Inapoderável lhe toma o trejeito e o dedo em riste riscando o ar impõe um momentâneo silêncio.

- Até quando, Impunível, canalha vil, até quando abusarás da nossa paciência ? Hoje é o dia do basta, todo ciclo tem um fim. O tempo das suas bicadas acaba agora. Ao seu futuro são reservadas tantas condenações quanto bastarem para reescrever a sua história como sendo a zombaria de um louco. Deixemos a voz das ruas soltar a sua palavra de ordem!

Então, o coro se fez, todos e todas as vozes em uma só. Era uma ressonância tão legitima e tão direta como no tempo em que o campo de Ourique viveu a Rusga.

 - Somos nós os filhos e filhas desta terra, somos herdeiros da luta dos quilombolas, camaradas e paiaguás. Eis o amor que deveria governar o mundo: a nossa terra e a nossa gente.  Nosso regionalismo faz logo a criança tomar gosto pela sombra, pelo vento, pelo pingo da chuva e pelo sabor da fruta. Sustentamos a mangueira, o cajueiro e o buriti como os nossos mais belos monumentos. No mundo de brancos ungimos o negro a Santo, e fizemos dele o mais forte símbolo de nossa cultura.  Cuiabá é feita de gente que enfrentou o medo da fronteira, da Guerra, da fome e do perigo constante da morte. Por isso vencemos o Império do arbítrio, combatemos a República do privatismo e perseguimos a Democracia prometida. Sempre enfrentando o idealismo da indiferença. Hoje, fizemos o centro como periferia.  Amanhã, faremos o sertão como o projeto de mundo. Por isso, eis a nossa palavra de ordem: Reforma Agrária, Política e Tributária ! Para o todo reformar, é Constituinte Já !

Epílogo: o Sol passava do Zênite quando o debate foi encerrado, em pleno dia começava um novo amanhã pela instauração da primeira sessão da Assembleia Constituinte.

Obs.: O ato 4 é precedido do ato 1 – O Impunível, do ato 2 – O Inapoderável e do ato 3 - O debate inicial entre o Impunível e o Inapoderável.

Bruno Boaventura – Advogado. Especialista em Direito Público. Mestre em Política Social pela UFMT. www.bboaventura.blogspot.com

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