sábado, 9 de março de 2013

Polícia, para quem precisa?

Era mais um dia de Sol. Era mais uma manifestação em Cuiabá. Era mais um dia de luta. Estudantes reivindicavam casa para morar, não podendo pagar, devem contar com assistência da Universidade Federal de Mato Grosso. Só que a cidade não pode parar, a cidade só cresce, aos estudantes que manifestam não foi oportunizado o diálogo. O que assistimos foi a Policia Militar a mando da Reitoria dando tapa na cara, sangue no pulmão e bala de borracha na mão.

Nesse dia em que o brilho do Sol é ofuscado, em que a força de uma escopeta de elastômero é maior do que a voz de um ideal: não tema em reagir, não se indigne apenas com palavras, mobilize para a ação.

Não deve ser o movimento estudantil, o qual invariavelmente é sempre solidário a todos os outros movimentos sociais, que será tolerante ao tapa na cara.

A face que a Polícia Militar barbaramente socoteou não é só a face de um estudante, de um cidadão, é a face de um ideal de Sociedade, de um ideal de Estado. É a face comum, é a nossa face, a de todos aqueles que acreditam que em uma Sociedade deve haver liberdade de manifestação do pensamento. É a face de todos aqueles que acreditam que em um Estado deve haver respeito a dignidade humana de qualquer pessoa, qualquer pela democracia.

O soco brutal do policial militar é a expressão da mentalidade autoritária, da enraizada mentalidade da ditadura militar que segue impune. Hoje, mais do que nunca, o Estado de Mato Grosso como uma totalidade é a exemplificação desse autoritarismo militaresco que ainda corrompe nosso cotidiano, que ainda corrompe nossa história.

A Polícia Militar de Mato Grosso nunca recebeu nenhum treinamento que possa lhe permitir adequadamente lidar com uma circunstância que é própria do Estado Democrático, a liberdade do povo em manifestar. A estratégia é única e simples: borracha neles, borracha neles !

Lembro do episódio de Andreza Moraes Leria, professora membro do Comitê de Luta pelo Transporte Coletivo, covardemente atacada por policias militares em uma manifestação. Lembro do episódio de Paulo Pacheco, trabalhador membro do Comitê de Luta contra a Privatização da Sanecap, também atacado por bala de borracha. Ainda, faço questão de lembrar do episódio, em que o então Vice-Governador Silval Barbosa, em pessoa, disse no evento organizado pela RedeJur a indagação de um advogado alagoano defensor de usineiros sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST: “Por mim, o Governo tinha que sentar borracha neste povo.” Na verdade não se tratam mais de episódios, mas sim de uma reticência que haverá de perdurar se não fizermos nada.

Muito mais do que exigir a punição por abuso de autoridade, abuso de poder, lesão corporal, e crime de tortura, os movimentos sociais em sua totalidade devem reagir contra a opressão que faz possível um projétil de elastômero calar o ideal da defesa de um projeto de civilidade.

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