terça-feira, 15 de novembro de 2011

Manifesto 15.11.11.

Todos temos motivo para marchar. Não é derramar lágrimas, ou lamentar os fatos. Não é desesperançar alguém.

Estamos a comemorar o fim do autoritarismo do Império. Estamos a lembrar o fim da opressão do absolutismo. Estamos a proclamar o fim da personificação do Estado. Estamos a reviver a República. Estamos marchando porque acreditamos.

Acreditamos na honestidade. É nisso que acreditamos. Acreditamos na democracia. É nisso que acreditamos. Não a democracia dos partidos, não a democracia dos corruptos. Acreditamos na democracia popular, na democracia direta. Marchamos por esta democracia, porque queremos viver esta democracia.

Teremos que ser fortes para enfrentar a corrupção. Teremos que ser firmes para enfrentar a corrupção.

Somos os esperançosos de um novo tempo. Um tempo da consciência. Conscientes da nossa origem, diria os índios. Conscientes da finitude de nossa natureza, diria os negros. Conscientes do futuro, diria as mulheres. Conscientes da nossa esperança, diria as crianças. Conscientes da nossa sensibilidade, diria os homossexuais. Conscientes dos erros do passado, diria os verdadeiros homens deste novo tempo.

Aos que corrompem, e aos que são corrompidos, digamos com firmeza: vocês são fracos. A fraqueza do caráter, nós repugnamos. A fraqueza da responsabilidade, nós repugnamos. A fraqueza no exercício da função, nós repugnamos.

Não deixaremos, nunca mais, que façam da história de nosso País, de nosso Estado, de nossa cidade, de nossa vida, a marca de sua desforra.

Queremos República, queremos pena para os culpados. Queremos República, queremos fim aos privilégios. Queremos República, queremos 10% do PIB à educação. Queremos República, queremos ficha limpa. Queremos República, queremos fim do voto secreto no Parlamento. Queremos República, força ao CNJ. Queremos República, conseguiremos reformando-a politicamente.

Nada seremos sem mobilização. Que façamos aumentar a nossa rede de parceiros. Que escolhemos os nossos inimigos. Que façamos nossas vitórias acontecerem. Que façamos todos entenderem a nossa luta. Está é a luta daqueles que já não ficam mais parados, dos que não esperam acontecer.

Ontem indignamos, hoje marchamos, e o amanhã será nosso. Vamos sim, é possível sonhar o alvorecer deste novo amanhã.

Um amanhã sem trabalho escravo que corrompa o homem. Um amanhã sem patrimonialismo que corrompa o mérito. Um amanhã sem veneno que corrompa a comida. Um amanhã sem ganância que corrompa a nossa natureza. Um amanhã sem medo que corrompa a sociedade.

Um amanhã, Um Brasil, uma Nação Independente, o futuro da Igualdade, Liberdade e Fraternidade.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A opressão econômica

A história demonstra a grande antinomia da humanidade, a intersecção da individualidade e da coletividade é a luta incessante daquilo que esta coletividade - não entendida como a coletividade propriamente dita, mas sim daquilo que se possa pressupor como coletivo - quer dominar o indivíduo, ou seja, a opressão.

A opressão então deve ser entendida como a pressão constante do querer dominar a consciência do indivíduo, desvirtuando a consciência do indivíduo sobre a própria existência, sobretudo através do medo. Já o indivíduo que não conscientiza a sua existência acaba por somente pensar e agir em pressupostos que não lhe sejam próprios. Pressupostos contrários à sua condição humana se tornando assim oprimidos.

O equilíbrio do meio social tem como preocupação principal a aporia da proporcionalidade da individualidade com a coletividade, do naturalismo com o positivismo, da neutralidade com a materialidade, enfim do poder com a opressão.

E o risco que corremos é de nossa individualidade ser tão grande ao ponto de queremos impor a nossa personalidade como conduta humana imperativa, ou de nossa individualidade ser tão pequena ao ponto de não estabelecemos como personalidade vivida .

Contemporaneamente, a realidade demonstra que a condição humana na sociedade ocidental é circunscrita na opressão econômica. A opressão é ungida no medo introjetado na individualidade do não pertencer a coletividade por uma razão puramente econômica.

O medo não é o de não conseguir pagar as contas, mas sim de ser excluído da possibilidade de ser coletivo pelo modo fantasioso que a nossa consciência passa a entender a nossa existência como um ser competindo individualmente pela sobrevivência e não coletivamente cooperando pela sobrevivência. Não ser competitivo é ser excluído da vida, já que a condição humana fundamental é competir.

A individualidade dos oprimidos nos é projetada em todos os outros aspectos, políticos, jurídicos filosóficos e até culturais, como um mero padrão econômico de sobrevivência. Para que possamos existir na circunstância da opressão econômica devemos competir constantemente uns com os outros para que possamos manter ou elevar o padrão econômico de sobrevivência.

O padrão é que o indivíduo somente se relaciona com outros indivíduos de uma mesma classe econômica. A opressão é fazer dominar que não existe nenhuma outra identidade social de relação destes indivíduos, outros interesses que possam substanciar-se como coletivos, além da sobrevivência econômica na competição.

Não existe coletividade, além do econômico, além do consumo. Assim a relação naturalmente antinômica entre indivíduo e coletivo do tempo contemporâneo é padronizada não pela consciência da existência da condição humana, mas pela inconsciente condição econômica.


Bruno Boaventura.