segunda-feira, 16 de março de 2015

A prisão de um Impunível e o removimento das massas. Ato 5.

A prisão de um Impunível e o removimento das massas. Ato 5.

Prólogo: a história da realidade já nos contou de que o final não pode ser feliz para sempre. A sociedade, quando em forma de massa, tenciona o triste fim para o lado do seu Impunível. Eis então que, antes da primeira sessão da Assembleia Nacional Constituinte, a cuiabanidade dá a voz da prisão a um de seus Impuníveis:
- A todo império existente só cabe uma certeza, o fim. Toda ostentação na luz do Sol se desmancha no ar. Sob os auspícios da vontade popular o prendemos na masmorra do vácuo político, tiramos-lhe o arbítrio do nosso destino. Agora, tu és prisioneiro da articulação dos seus erros.

Algemado nas mãos, mas livre na consciência, aos berros o Impunível padece a falsa sensatez da distopia do poderoso:

 - Não lhe envergonham tamanha mediocridade ? A civilidade ingênua e pequena ? Fingem ou são estúpidos de não saber que a minha liberdade é sinônimo da minha propriedade. Amanhã, cuspo no prato da minha marmita no presídio, mas nunca o prato que servirão em minha casa deixará de ser de ouro. Inocentes, jamais verdadeiramente me prenderão, pois aos olhos do meu mundo, sou homem de bem, e um dos mais afortunado. Nunca deixarei de ser o sistema, só o não o moverei mais com a minha mão visível. A minha proteção é uma questão de existência de respeito a autoridade e não de solidariedade para comigo.

O Inapoderável sente o ódio naquelas palavras, acalma-se, organiza-se e fala firmemente:

- Enfim, a si próprio se desvela. Ora, saibamos o quanto valor lhe dá ao sabor do vento, o ver do amanhecer e o carinho da mão macia do amor. Ser desprezível! Cada macio travesseiro que me deitar, cada caju doce que chupar e cada lambadão que dançar, sentírei-los, todos os gostos da liberdade, mais profundamente ainda. A ti tudo vale menos do que a liberdade do seu capital, até mesmo a liberdade da sua vida. Morrerás em uma jaula feito o bicho que o sistema lhe fez acreditar que era.
Em trepidação raivosa, o desalmado toma para si o momento:

- Eu sou um Impunível. Pensas que não sabia que aconteceria a encenação desta tragédia ? Sempre soube que tudo isso não passa de um teatro grego chamado Democracia travestido de um palanque francês apelidado de Parlamento. Não serei a vítima de meus segredos. Aguardarei em silêncio, mas só o tempo em que o exemplo de meu infortúnio aplacar a fome de Justiça tal como sempre deve ser passageira a sede por punição dos iguais a mim. Nem um dia a mais, depois do fim da ressaca moral e do início de alguns sentirem pena de mim. O meu espelho não refletirá a mesma imagem do definho do Comendador. Diferentemente, não se esqueça, a cor do meu colarinho é branca, na improbidade não há lealdade que impeça a delação.

Epilogo: A saída do Impunível faz com que massa entendesse que nada adiantaria deixar aberta a oportunidade de outro ser democrático se tornar Impunível, e começa a se movimentar novamente rumo à Assembleia Constituinte. Uns para a esquerda defendendo que a questão a ser pautada era a social, outros para a direita defendendo que a questão a ser pautada era a do capital. Muitos se perderam no caminho das ruas, não conseguiam entender a encruzilhada da história. Ao que parece todos que seguiam por um dos caminhos entenderam que na Democracia o diálogo das éticas ainda sim seria um melhor caminho do que a guerra das ditaduras. 

Obs.: O ato 5 é precedido do ato 1 – O Impunível, do ato 2 – O Inapoderável e do ato 3 – O debate inicial entre o Impunível e o Inapoderável, e do ato 4 – O debate assemblear entre o Impunível e o Inapoderável.

Bruno Boaventura. Advogado. Especialista em Direito Público. Mestre em Política Social.