A decretação da prisão dos condenados na AP 470 é
representativa do paradoxo a que foi colocada a história do Partido dos
Trabalhadores – PT.
Cabe aqui um parêntese de que a história do Partido
dos Trabalhadores – PT foi colocada ao invés de se colocar, ou seja, está sendo
construída de fora para dentro. O que
prepondera na determinação dos rumos do partido são os interesses
político-econômicos que fazem da governabilidade a justificativa para não
realização das reformas tão necessárias à um projeto de nação que seja
verdadeiramente brasileiro (agrária, política, tributária, etc).
A base partidária ao deixar de ser constituída principalmente
por militantes ideologicamente engajados fez com o partido deixasse de ser
principal agente da própria história, perdendo o partido não só o caráter
democrático, mas também o caráter reformador que construíra desde a sua
fundação.
Dizemos que esse paradoxo é representativo do
momento historio, pois é a síntese de pelo menos quatro contradições, até então
insolúveis, entre a teoria e prática, ou seja, entre o discurso e o exercício
do poder pelo Partido dos Trabalhadores.
Primeiro, o discurso da ética que se fez no impeachment
do Collor sob a liderança do movimento estudantil de esquerda, inclusive com
apoio do PT, foi o mesmo discurso que fez aproximar Lula da classe média
brasileira até o ponto de elegê-lo, agora se faz em prática política – jurídica
no STF. O que nenhum petista poderia é acusar nada e ninguém de falsidade moralista,
pois se assim o faz, condena à falácia sua própria história que foi fundamentada
neste mesmo discurso.
Segundo, o discurso da perseguição
mediática engendrada pela Globo também é paradoxal. Já que o Ministro das
Comunicações do ex-presidente Lula foi nada mais e nada menos do que o
correspondente da Globo, Hélio Costa. O Ministério das Comunicações atualmente
sob o comando do petista Paulo Bernardo é o que mais possui discurso e ação em
prol da centralização da mídia. Torna-se por óbvio o que menos democratizou as
comunicações. É só verificar o baixíssimo número de concessões de rádios
comunitárias, o aumento da repressão contra os radioamantes livres, e a
insistência em não fazer valer a Conferência Nacional das Comunicações
atendendo o lobby do monopólio das comunicações.
Terceiro paradoxo: a estratégia de
imagem da vitimização dos prisioneiros, sob acusação de perseguidos políticos
não se sustenta, já que a Presidência da República sob o comando do PT há 10
anos nomeia os Ministros do STF, inclusive Joaquim Barbosa, o Superintendente
da Polícia Federal, e o Procurador Geral da República. Presidenta esta que não
persegue, pelo contrário segue os supostos perseguidos.
Quarto. Socialmente teríamos então a
possibilidade de que tudo não passou de um golpe “das elites”. Uma outra
falácia que intenta apunhalar todos os militantes de esquerda em seu ponto
fraco, já que nossas razões são voltadas sempre para a luta contra a desigualdade
social. A elite golpista deste país tem partidos políticos, é o principal deles
é o PMDB que comanda a Vice-Presidência da República e outros tantos
Ministérios do Estado Brasileiro. Não há um único dia em que a governabilidade do
poder petista não se fez em acordo com esta mesma elite golpista (Sarney,
Renan, Eunício, Bezerra e tantos outros).
Finalmente, tenho que os militantes que
agora são prisioneiros fizerem história pela luta da democratização deste país.
Todo o respeito a sua participação política. Tal ato é inegável, mas nem por
isso lhe tornam anjos sem culpa de nada, até porque não ascenderam ao poder com
simples bater de asas.
A grande resolução deste paradoxo
político seria a possibilidade do PT ter se sacrificado em nome daquele
discurso ético há muito tempo perdido pelo próprio PT, dizendo que cortou na
própria carne. No fundo do fundo, na verdade o sacrifício é em nome, de novo,
da ordem para mantença da governabilidade do poder pelo próprio PT.
Amanhã será um novo dia, que tenhamos todos
mais razão do que paixão para analisar este paradoxismo. Agora, é força ao bom
combate ao velho discurso de que todo o militante de esquerda é petista, e de
que todo petista é criminoso, ou seja, de que todo militante de esquerda é
criminoso. Na prática, precisamos de uma renovação na esquerda. Renovação que
seja capaz de construir uma mobilização teorizada no ser social, e voltada à
libertação revolucionária.
Bruno Boaventura.