quinta-feira, 26 de maio de 2011

Rota da desapropriação II

Cuiabá está marcada de vermelho, amarelo e azul. São as cores que indicam quais as áreas que serão desapropriadas em virtude das obras da Copa do Mundo. A Associação dos Empresários Locatários da Prainha – AEL Prainha conseguiu na Justiça o direito de ter acesso aos projetos destas obras.
Lá, nos projetos, aparece uma Nova Cuiabá, com avenidas mais largas e trânsito mais fluente. Lá, nos projetos, aparece a Cuiabá de agora, com os seus cidadãos marcados para serem desapropriados. O que não aparece nos projetos, nas propagandas, nas entrevistas, nas tantas aparições é a falta de sensibilidade social para com as famílias que serão sufragados por patrolas.
O que me inquieta, é o fato que os desapropriados, os pais, as mães, e os filhos desta nossa querida terra de Bom Jesus de Cuiabá não estão sendo informados de absolutamente nada.
A AGECOPA numa psique de complexo de inferioridade somente se preocupa em propagandear que é capaz de realizar obras, mas não se preocupa com aquilo que foi, é e sempre será o nosso maior patrimônio: a nossa gente.
O maior de todos os legados, não será a Arena Pantanal, VLT, BRT, ou qualquer uma destas grandes obras a ser construída. O maior de todos os legados será a internalização em nossa cultura, em nossos corações, em nossos pensamentos, em nossas histórias, o orgulho do encantamento do mundo inteiro com o nosso mundo.
O que vamos ter é mais do que a chance de concretizar investimentos que décadas esperávamos, vamos fazer com que a roda viva e gigante da globalização gire na direção inversa: da internalização nos turistas internacionais dos aspectos regionais que cercam a vida em Mato Grosso. É este o fato histórico que marcará a nossa expressão enquanto povo mato-grossense.
Mostraremos ao globo que Cuiabá e Mato Grosso não são belos, pelo fato de estádio novo, aeroporto grande, estrada boa, trânsito bom, mas sim que aqui se faz presente uma gente que luta e acredita no orgulho do verde de nossa cidade, e que sofre, mas não se cala com o horror do correntão no verde do nosso estado.
Não é esta a preocupação da AGECOPA, não há dentro do método de trabalho a preocupação com a sustentabilidade social. O conceito da propaganda da AGECOPA é claro e simples: não se preocupem que estamos fazendo o que tem que ser feito, mas a verdade real e crua é esta: não se preocupem roubaremos o que for preciso e ainda faremos o obrigatório.
Não há sustentabilidade social na propaganda, e nenhuma ação da AGECOPA até agora demonstrou capacidade de respeitar com dignidade os cuiabanos que serão desapropriados.
Sabe qual é a afirmação que demonstra a minha razão: assim como os desapropriados não tem nenhuma informação concreta do que acontecerá, nós, cidadãos de Cuiabá não temos ainda nenhuma informação de como, por exemplo, ficará o trânsito de nossa cidade enquanto as obras estarem sendo executadas.
Temos os desapropriados, e demais cidadãos, o mesmo desrespeito, preocupamos com o pandemônio que acontecerá na rotina de nossas vidas, e nada, absolutamente nada sabemos. Somos empurrados mais uma vez para a fé nos homens públicos e nas instituições políticas. Para estes santos, eu não faço mais promessas.
Em uma decisão revolucionária, resolvemos por bem de todos que serão diretamente afetados com as desapropriações, repassarmos informações concretas em uma corrente virtual de solidariedade. Nós estamos divulgando para que todos os cidadãos conheçam com um mínimo de antecedência os exatos locais incursos na rota da desapropriação.
Não é a AGECOPA que esta informando à população, é a população informando a população. Acesse: tonarotadadesapropriação.blogspot.com e coneça a nova face da luta social.
Bruno Boaventura – advogado. Mestrando em política social pela UFMT.

domingo, 22 de maio de 2011

Rota da desapropriação

Qual é o custo social da realização da Copa do Mundo em Cuiabá? Está é a questão a ser pensada. Falo em custo social, falo em como, porque, aonde, e principalmente para que será gasto o dinheiro público. É um novo parâmetro de avaliação: a sustentabilidade social.

Responda, qual é exatamente a medida de sacrifício social que teremos que arcar para quanto de benefício social que iremos aproveitar?

Sou contra a Copa? Não faça a desfaçatez de me acusar e julgar sem ler o que tenho para denunciar. Aliais, nada contra quem é, respeito a opinião do outro, eu sou a favor da realização da Copa do Mundo em Cuiabá. O que sou terminantemente contra é o não pensar.

Os muitos benefícios, acredito que os sonhos já se encarregaram de estrutura - lós, mas o que me preocupa são os sacrifícios.

O primeiro atinge a consciência de cada um, ninguém é bó bó xera xera de não saber que a roubalheira existe, ou então não viveríamos no sul americano centro geopolítico da impunidade. Ainda nos resta saber que estamos em uma democracia sem qualquer um de nunca sermos chamados para decidirmos sobre absolutamente nada.

O segundo é o fato de sermos submetidos à uma dieta famélica de serviços públicos de qualidade. Somos esgotados pelo trabalho que temos que fazer para pagar impostos, e engolimos os parcos serviços públicos, e a vida continua.

Não importa se não temos hospitais, escolas, asfalto, mas vamos investir bilhões em estádios e teleféricos, pois já que não temos nada, parece que temos que ficar satisfeitos com as migalhas que caem da mesa.

O terceiro sacrifício é relacionado a rota da desapropriação. É um absurdo internacional, já manifestado pelas Organizações das Nações Unidas - ONU, que pessoas sejam desprovidas de suas propriedades pelo Estado sem qualquer justiça social.

É esta a denúncia a se fazer, o Estado de Mato Grosso indignamente não repassa informações concretas as pessoas que serão afetadas pelas desapropriações. A verdade é que o cidadão cuiabano se tornou inimigo do Estado de uma hora para outra pelo simples fato de morar ou comercializar a décadas em um local que terá que ser desapropriado.

A maneira que as desapropriações estão acontecendo não deixa dúvidas, não existe preocupação com a sustentabilidade social. O gigante Estado de Mato Grosso está disposto a patrolar tudo e a todos para que as desapropriações aconteçam, não se importando com a fragibilidade social dos atingidos. A indiferença atinge famílias, de moradores, dos comerciantes e as de seus funcionários.

A não ser que o Estado consiga corromper algumas lideranças como já vem tentando, já temos um local para que o enfretamento ocorra, e só falta marcar o horário. O local é a Avenida Tenente Coronel Duarte, a chamada Prainha, epicentro da cidade e da luta.

O meu propósito é atender um pedido de dona Andressa, de 82 anos, moradora da Avenida Prainha, vítima de 2 desapropriações anteriores: "não deixem, o Governo sacanear conosco de novo."