terça-feira, 26 de novembro de 2013

Paradoxismo petista

A decretação da prisão dos condenados na AP 470 é representativa do paradoxo a que foi colocada a história do Partido dos Trabalhadores – PT.
Cabe aqui um parêntese de que a história do Partido dos Trabalhadores – PT foi colocada ao invés de se colocar, ou seja, está sendo construída de fora para dentro.  O que prepondera na determinação dos rumos do partido são os interesses político-econômicos que fazem da governabilidade a justificativa para não realização das reformas tão necessárias à um projeto de nação que seja verdadeiramente brasileiro (agrária, política, tributária, etc).  
A base partidária ao deixar de ser constituída principalmente por militantes ideologicamente engajados fez com o partido deixasse de ser principal agente da própria história, perdendo o partido não só o caráter democrático, mas também o caráter reformador que construíra desde a sua fundação.
Dizemos que esse paradoxo é representativo do momento historio, pois é a síntese de pelo menos quatro contradições, até então insolúveis, entre a teoria e prática, ou seja, entre o discurso e o exercício do poder pelo Partido dos Trabalhadores.
Primeiro, o discurso da ética que se fez no impeachment do Collor sob a liderança do movimento estudantil de esquerda, inclusive com apoio do PT, foi o mesmo discurso que fez aproximar Lula da classe média brasileira até o ponto de elegê-lo, agora se faz em prática política – jurídica no STF. O que nenhum petista poderia é acusar nada e ninguém de falsidade moralista, pois se assim o faz, condena à falácia sua própria história que foi fundamentada neste mesmo discurso.
Segundo, o discurso da perseguição mediática engendrada pela Globo também é paradoxal. Já que o Ministro das Comunicações do ex-presidente Lula foi nada mais e nada menos do que o correspondente da Globo, Hélio Costa. O Ministério das Comunicações atualmente sob o comando do petista Paulo Bernardo é o que mais possui discurso e ação em prol da centralização da mídia. Torna-se por óbvio o que menos democratizou as comunicações. É só verificar o baixíssimo número de concessões de rádios comunitárias, o aumento da repressão contra os radioamantes livres, e a insistência em não fazer valer a Conferência Nacional das Comunicações atendendo o lobby do monopólio das comunicações.
Terceiro paradoxo: a estratégia de imagem da vitimização dos prisioneiros, sob acusação de perseguidos políticos não se sustenta, já que a Presidência da República sob o comando do PT há 10 anos nomeia os Ministros do STF, inclusive Joaquim Barbosa, o Superintendente da Polícia Federal, e o Procurador Geral da República. Presidenta esta que não persegue, pelo contrário segue os supostos perseguidos.
Quarto. Socialmente teríamos então a possibilidade de que tudo não passou de um golpe “das elites”. Uma outra falácia que intenta apunhalar todos os militantes de esquerda em seu ponto fraco, já que nossas razões são voltadas sempre para a luta contra a desigualdade social. A elite golpista deste país tem partidos políticos, é o principal deles é o PMDB que comanda a Vice-Presidência da República e outros tantos Ministérios do Estado Brasileiro. Não há um único dia em que a governabilidade do poder petista não se fez em acordo com esta mesma elite golpista (Sarney, Renan, Eunício, Bezerra e tantos outros).
Finalmente, tenho que os militantes que agora são prisioneiros fizerem história pela luta da democratização deste país. Todo o respeito a sua participação política. Tal ato é inegável, mas nem por isso lhe tornam anjos sem culpa de nada, até porque não ascenderam ao poder com simples bater de asas.
A grande resolução deste paradoxo político seria a possibilidade do PT ter se sacrificado em nome daquele discurso ético há muito tempo perdido pelo próprio PT, dizendo que cortou na própria carne. No fundo do fundo, na verdade o sacrifício é em nome, de novo, da ordem para mantença da governabilidade do poder pelo próprio PT.
Amanhã será um novo dia, que tenhamos todos mais razão do que paixão para analisar este paradoxismo. Agora, é força ao bom combate ao velho discurso de que todo o militante de esquerda é petista, e de que todo petista é criminoso, ou seja, de que todo militante de esquerda é criminoso. Na prática, precisamos de uma renovação na esquerda. Renovação que seja capaz de construir uma mobilização teorizada no ser social, e voltada à libertação revolucionária.

Bruno Boaventura.