A prisão de um Impunível e o removimento
das massas. Ato 5.
Prólogo: a
história da realidade já nos contou de que o final não pode ser feliz para
sempre. A sociedade, quando em forma de massa, tenciona o triste fim para o
lado do seu Impunível. Eis então que, antes da primeira sessão da Assembleia
Nacional Constituinte, a cuiabanidade dá a voz da prisão a um de seus
Impuníveis:
- A todo império existente só cabe
uma certeza, o fim. Toda ostentação na luz do Sol se desmancha no ar. Sob os auspícios
da vontade popular o prendemos na masmorra do vácuo político, tiramos-lhe o
arbítrio do nosso destino. Agora, tu és prisioneiro da articulação dos seus
erros.
Algemado nas mãos, mas livre na
consciência, aos berros o Impunível padece a falsa sensatez da distopia do
poderoso:
- Não lhe envergonham tamanha mediocridade ? A
civilidade ingênua e pequena ? Fingem ou são estúpidos de não saber que a minha
liberdade é sinônimo da minha propriedade. Amanhã, cuspo no prato da minha
marmita no presídio, mas nunca o prato que servirão em minha casa deixará de
ser de ouro. Inocentes, jamais verdadeiramente me prenderão, pois aos olhos do
meu mundo, sou homem de bem, e um dos mais afortunado. Nunca deixarei de ser o
sistema, só o não o moverei mais com a minha mão visível. A minha proteção é
uma questão de existência de respeito a autoridade e não de solidariedade para
comigo.
O Inapoderável sente o ódio
naquelas palavras, acalma-se, organiza-se e fala firmemente:
- Enfim, a si próprio se
desvela. Ora, saibamos o quanto valor lhe dá ao sabor do vento, o ver do amanhecer
e o carinho da mão macia do amor. Ser desprezível! Cada macio travesseiro que
me deitar, cada caju doce que chupar e cada lambadão que dançar, sentírei-los, todos
os gostos da liberdade, mais profundamente ainda. A ti tudo vale menos do que a
liberdade do seu capital, até mesmo a liberdade da sua vida. Morrerás em uma
jaula feito o bicho que o sistema lhe fez acreditar que era.
Em trepidação raivosa, o
desalmado toma para si o momento:
- Eu sou um Impunível. Pensas
que não sabia que aconteceria a encenação desta tragédia ? Sempre soube que
tudo isso não passa de um teatro grego chamado Democracia travestido de um palanque
francês apelidado de Parlamento. Não serei a vítima de meus segredos. Aguardarei
em silêncio, mas só o tempo em que o exemplo de meu infortúnio aplacar a fome
de Justiça tal como sempre deve ser passageira a sede por punição dos iguais a
mim. Nem um dia a mais, depois do fim da ressaca moral e do início de alguns sentirem
pena de mim. O meu espelho não refletirá a mesma imagem do definho do
Comendador. Diferentemente, não se esqueça, a cor do meu colarinho é branca, na
improbidade não há lealdade que impeça a delação.
Epilogo: A
saída do Impunível faz com que massa entendesse que nada adiantaria deixar
aberta a oportunidade de outro ser democrático se tornar Impunível, e começa a
se movimentar novamente rumo à Assembleia Constituinte. Uns para a esquerda
defendendo que a questão a ser pautada era a social, outros para a direita
defendendo que a questão a ser pautada era a do capital. Muitos se
perderam no caminho das ruas, não conseguiam entender a encruzilhada da
história. Ao que parece todos que seguiam por um dos caminhos entenderam que na Democracia o diálogo das éticas ainda sim seria um melhor caminho do que
a guerra das ditaduras.
Obs.: O ato 5 é precedido do
ato 1 – O Impunível, do ato 2 – O Inapoderável e do ato 3 – O debate inicial
entre o Impunível e o Inapoderável, e do ato 4 – O debate assemblear entre o
Impunível e o Inapoderável.
Bruno Boaventura.
Advogado. Especialista em Direito Público. Mestre em Política Social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário