sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A praça popular e o jovem advogado.


Escrevo no tempo, uma carta à você, homem que age, mulher que luta, criança que ri, com o coração honesto. Ao mundo, presenteio uma outra racionalização de uma profissão pelo sentir de uma praça. Neste encontro do ler com a escritura, à ti dou-lhe a chave. É da gaiola do passarinho que cantarola na livre idade da praça popular.
Ali, em Cuiabá, se faz o charme crescer pela beleza do menino pobre que joga bola descalço na quadra do piso quente buscando o refresco da sombra da árvore grande. O charme cresceu foi na manga que se apedrejou, e no pão que ainda se economiza.
Não é mais o charme da vassoura de Mané Tá Raso Tá Fundo, mas no saber do curso superior de Seu Dito Queixo, o nosso novo higienizador. Não é mais no tomar banho na caixa d´agua abandonada da clínica de olhos, nem no decote da Elaine, mas continua o lugar da melhor coxinha de franga da cidade. Já foi se o tempo também do oleoso pastel do Max, mas ficou a esfiha do seu Habibe. Que diga João Gordo, o traficante regenerado pelo vício da bíblia. Que diga Júnior, o engraxate boa praça. Que livremente digam todos, tantos outros personagens populares: a idade da praça.
Ali, fui me tornando velho, vendo a morte pela droga, justamente de seu Palhinha que organizava os campeonatos de futebol. Compreendendo a política pelas atitudes dos Nunes. Sempre, tornar-me-ei novamente novo ao por as mãos na grade da quadra, e lembrar que nas finais ganhávamos do pessoal da Varginha do córrego 8 de abril, e corríamos com o troféu sob uma chuva de pedras, e caroços de mangas.
O charme é saber ti conhecer, desvelar a alma. A moda é pensar no que você é, ora praça do Goiabeiras, ora praça da COHAB Popular. Hoje, lhe falo: não há alma melhor do que a conhecida.
Então, ontem, na melhor mesa do bar do Azeitona, a dos amigos conhecidos. Ontem, na melhor praça de Cuiabá, a já muito conhecida Popular, conversando sinceramente com o jovem advogado Sebastião Monteiro tive a convicção de saber o que faz a advocacia como classe profissional.
É o sofrer dos advogados e advogadas na arte de tornarmos leves enormes pesos. É sentirmos o peso em nossos ombros da angústia da necessidade pelo tempo possível da resolução, e ainda sermos explicitamente calmos na definição da justiça. À nos advogados, a universidade do direito, a história da vida e o exame da OAB nos possibilitam sermos a janela para a compreensão da sociedade, do Estado e do mercado.
Não devemos desperdiçar sendo irresponsáveis, antes de tudo, conosco. A praça popular nos ensina. O charme não está nos carros, nas roupas, e na comida. Está na história, pois ante tantos encontros e desencontros, ainda é possível manter o amor que nos define pela preservação da identidade da alma que construímos.
Definíamos na praça dos profissionais não necessariamente como populares, mas como exigentes democráticos. A democracia da bola sem dono, a democracia da praça de todos.
Bruno J.R. Boaventura. Advogado.

2 comentários:

JP disse...

Grande Bruno - "Jaca". Parabéns pelo texto, que está maravilhoso.
Nós somos privilegiados, pois vivemos no melhor lugar da Terra nos anos 90, a Praça Popular!
Sempre que passo por ali eu fico contemplando aquela quadra, passando um filme lindo na minha cabeça. Nesse momento, ninguém sabe o que estou sentindo, só eu e a praça.
O cara que organizava os campeonatos chamava-se Pavinho, que era irmão do Ladinho (sangue) e do Xinho, que eram todos moradores do ferro velho na entrada da Ipiranga.
Saudade infinita daquela época.
Abraço!

EMAIL disse...

JP ou PP, o famoso Peter Praça. Você tem que organizar um jogo na praça para reelembrarmos as histórias, já estou até errando o nome do Pavinho.