A cada tempo e espaço a racionalidade ganha um novo embate, e o principal palco desta batalha é o Estado como pré-concebido meio de institucionalização de interesses particulares em interesses públicos. Assim a cada momento histórico as concepções do Estado representam o próprio debate, ora o foco é Deus, ora uma razão natural, ora uma razão positivista, ora a justiça do poder, ora o poder da justiça, e agora chegamos ao momento limite da concepção da racionalidade como a do Mercado.
Esta última racionalidade foi construída pela conjugação da analise econômica das ciências humanas, universalizando as relações sociais com fetiches reificadores como o ótimo de Pareto, com uma possibilidade de diminuição dos custos do mercado advindos da interferência estatal, principalmente ligadas à concorrência comercial. Seria assim a retomada do espírito do comércio de Benjamim Constant (pacifismo mercantil) como o espírito do Estado, mas tudo não passando de mais um instrumento de puro atendimento aos princípios mercadológicos. Não é somente uma questão de atender ao mercado, mas sim que o atendimento dos interesses que não são mais ditos como públicos, mas assumidamente privados, sejam feitos com base nos princípios que regem o mercado. A falta de liberdade como justificativa para assegurar a própria liberdade já foi usada, mas chegamos ao ponto de ponderarmos a liberdade não mais como um valor humano, mas sim como um valor meramente monetário. A lógica mudou de todo custo deve estar previsto para todo custo somente é justificado acaso o benefício seja lucrativamente maior que o próprio custo. Tudo não passa de um investimento financeiro, relegando ao segundo plano os ganhos do investimento social ou ambiental. A lógica antes era todo o não benefício social deveria ser justificado, agora é todo o custo financeiro não lucrativo deve ser justificado.
Bruno J.R. Boaventura
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